A
Vagabundagem em Alta
Márcio
Barker
![]() |
Passo do malandro - Lia Snaders |
''Trabalho
igual ao meu
todo
mundo quer,
mas
nem todos podem arranjar.
Pego
as onze horas,
largo
ao meio dia.
E
tenho uma hora pra almoçar.
Não
há coisa melhor,
do
que não fazer nada,
e
depois descansar.''
Ismael
silva
Rio
de Janeiro, primeira metade do século passado.
E,
lá vai ele, caminhando por uma rua qualquer. Na cabeça, algumas
perguntas: a sua próxima refeição, do que seria? Onde seria? E
como consegui-la?
As
respostas eram vagas. De concreto, apenas o apetite, com o melhor dos
tempêros: a fome.
O
terno branco de linho e o chapéu panamá,
ou de palha, ajudavam a amenizar o calor carioca. Por de trás da
elegância do terno, do sapato bicolor, da gravata, do cravo na
lapela, lá vai indo mais um infeliz, marginalizado.
Quem
sabe morador dos antigos cortiços do centro da cidade, que foram
derrubados em nome do progresso, e depois morador num barraco,
dependurado num morro.
Sem
emprego fixo, sem moradia descente, vivendo de bicos, ou de pequenos
e indolores golpes. Debaixo do braço o violão, companheiro do samba
no boteco, seresta, ou na cela, na delegacia. Dono de extensa ficha na
polícia, pelo crime de vadiagem.
Lá
ia ele pensando na sua próxima refeição e, primordialmente, como
consgui-la. Puxa!!! Não era fácil essa tarefa diária, de sucesso
duvidoso, incerto... Algumas vezes uma carteira, num bolso distraído,
num bonde. Ou aquele amigo, que por acaso encontra no sentido
contrário, na mesma calçada, ou ainda, aquela amiga, que palavras
doces, e mãos sedutoras, conseguem arrancar uma ''ajuda''.
Lá
vai ele, o malandro, o anti-herói, que faz da vagabundagem a arte da
sobrevivência.
Como
arma, usa sua simpatia, voz macia, gestos elegantes. Inpossível
resistir. Ou em casos extremos, um belo par de mãos invisíveis,
leves, ágeis, capazes de operações inimagináveis, no aperto do
bonde vespertino. Detalhe: sem causar maiores traumas ao incauto, o
dono da carteira. Um verdadeiro mágico da mão leve, rápida,
insensível. Que beleza! Mais um dia salvo, mais uma, ou duas,
refeições ganhas. Mais algumas cervejas, para animar um bom papo,
até o galo cantar, anunciando o amanhecer.
Bem,
já é hora de deitar.
Viva
o malandro!
Nenhum comentário:
Postar um comentário