Ode
ao Malandro - I
Márcio
Barker
(devotosdacachaça)
Nas
vitrines das grandes companhias de navegação europeias, não raro
havia um aviso. Dizia mais ou menos assim: ''Vá a Buenos Aires,
sem passar pelos focos infecciosos do Rio de Janeiro''.
Havia
verdade naquele anúncio.
Estávamos
já no início do século vinte, e a capital federal brasileira
sofria de muitos males.
Eram
várias as pestes, saneamento básico quase inexistente, moradia
insuficiente, enfim, a coisa era séria.
Quem
se aventurasse a ir para a capital federal, no início do século
passado, não tinha sequer um porto descente, para desembarcar. Os
navios atracavam ao largo, e os passageiros eram levados em botes, até
a terra.
Aquela
situação não era a de uma capital federal. Algo deveria ser feito.
Foi
quando o paulista Rodrigues Alves, recém eleito presidente da
república, nomeou o carioca Francisco Pereira Passos, como prefeito
da cidade. A ele caberia a total remodelação da capital federal,
para uma estrutura digna de seu status.
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A
população da cidade crescia, aos milhares chegava gente vinda de
todos os lados, em busca da esperança. Migrantes estrangeiros e de
outros estados do Brasil.
O
Rio de Janeiro parecia acenar de longe, para toda aquela gente. Além
disso, a abolição da escravatura jogou em suas ruas, um grande
número de desesperançados que perambulavam pela cidade, em busca da sobrevivência dura e dolorosa.
Entulhados
em sórdidos cortiços, aquela gente sobrevivia como podia, em meio a
condições precárias de higiene. E, coisa que não faltava eram
doenças e epidemias.
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Aquele
centro da capital federal era tudo, menos o que deveria ser.
O
genial Pereira Passos começou com o ''bota abaixo''.
Centenas
de velhos cortiços, casarões decadentes foram postos a abaixo.
Ruelas estreitas e féditadas desapareceram, dando lugar a avenidas e
belas ruas, agora chamadas de boulevards Em quatro anos, o prefeito
carioca, Pereira Passos realizou uma mágica. De ''cidade da morte''
o Rio de Janeiro passou a ser a ''cidade maravilhosa.
Grandes
avenidas, belos edifícios ao estilo parisiense, uma urbanização
impecável. Agora, com amplas avenidas, belos jardins, a cidade
respirava.
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Municipal RJ |
Mas...pois
é, sempre tem um ''mas''. Mas e os milhares que viviam e sobreviviam
nas centenas de cortiços postos abaixo? O que foi feito deles?
Para
aquela gente, que foi empurrada em nome da ''higienização'' da
capital federal, sobraram os morros e o mangue. Berço da
marginalidade. E de um personagem lendário: O Malandro.
Um
deles não deixou de protestar. Foi José Barbosa da Silva, o Sinhô,
que se auto intitulava como o ''Rei do Samba''.
Negro,
elegante, pianista, malandro, cantor e compositor, escreveu, em 1929,
''A Favela vai abaixo''. Aqui, numa versão moderna
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