quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Ode ao Malandro - I


Ode ao Malandro - I
Márcio Barker

(devotosdacachaça)


                         Nas vitrines das grandes companhias de navegação europeias, não raro havia um aviso. Dizia mais ou menos assim: ''Vá a Buenos Aires, sem passar pelos focos infecciosos do Rio de Janeiro''.
Havia verdade naquele anúncio.
Estávamos já no início do século vinte, e a capital federal brasileira sofria de muitos males.
Eram várias as pestes, saneamento básico quase inexistente, moradia insuficiente, enfim, a coisa era séria.
Quem se aventurasse a ir para a capital federal, no início do século passado, não tinha sequer um porto descente, para desembarcar. Os navios atracavam ao largo, e os passageiros eram levados em botes, até a terra.
Aquela situação não era a de uma capital federal. Algo deveria ser feito.
Foi quando o paulista Rodrigues Alves, recém eleito presidente da república, nomeou o carioca Francisco Pereira Passos, como prefeito da cidade. A ele caberia a total remodelação da capital federal, para uma estrutura digna de seu  status.

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A população da cidade crescia, aos milhares chegava gente vinda de todos os lados, em busca da esperança. Migrantes estrangeiros e de outros estados do Brasil.
O Rio de Janeiro parecia acenar de longe, para toda aquela gente. Além disso, a abolição da escravatura jogou em suas ruas, um grande número de desesperançados que perambulavam pela cidade, em busca da sobrevivência dura e dolorosa.
Entulhados em sórdidos cortiços, aquela gente sobrevivia como podia, em meio a condições precárias de higiene. E, coisa que não faltava eram doenças e epidemias.

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Aquele centro da capital federal era tudo, menos o que deveria ser.
O genial Pereira Passos começou com o ''bota abaixo''.
Centenas de velhos cortiços, casarões decadentes foram postos a abaixo. Ruelas estreitas e féditadas desapareceram, dando lugar a avenidas e belas ruas, agora chamadas de boulevards Em quatro anos, o prefeito carioca, Pereira Passos realizou uma mágica. De ''cidade da morte'' o Rio de Janeiro passou a ser a ''cidade maravilhosa.
Grandes avenidas, belos edifícios ao estilo parisiense, uma urbanização impecável. Agora, com amplas avenidas, belos jardins, a cidade respirava.

Municipal RJ

Mas...pois é, sempre tem um ''mas''. Mas e os milhares que viviam e sobreviviam nas centenas de cortiços postos abaixo? O que foi feito deles?
Para aquela gente, que foi empurrada em nome da ''higienização'' da capital federal, sobraram os morros e o mangue. Berço da marginalidade. E de um personagem lendário: O Malandro.
Um deles não deixou de protestar. Foi José Barbosa da Silva, o Sinhô, que se auto intitulava como o ''Rei do Samba''.
Negro, elegante, pianista, malandro, cantor e compositor, escreveu, em 1929, ''A Favela vai abaixo''. Aqui, numa versão moderna



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