O
Pequeno Menino
Na
casa de meus pais, lá na Pompéia, bairro bem paulistano, havia uma
sala, que desde pequeno, me parecia mágica.
Nela,
um lindo piano, Zimmermann, feito em Leipzing, Alemannha. Meu avô
havia importado para minha mãe, mas quem tocava era meu pai.
Ele
sentava naquele piano, e tocava foxtrots, ragtimes, blues, choros,
valsas e sambas.
Eu
era bem pequeno, corria até aquela sala, e ficava bem quieto, ao
lado do piano, escutando especialmente os ragtimes, os blues e os
sambas.
Admirava
a mão esquerda de meu pai. Fazia mágicas, naquilo que eu viria a
saber que, tratavam-se de contracantos. Contracantos genialmente bem assentados,
dando o ritmo, a graça, o veneno, o gingando. Era, aliás, um piano bem safado.
Meu
pai era biólogo marinho, e pianista nas horas vagas. Mas não só, às
vezes trocava o piano pelo violoncelo. Belo instrumento, circunspecto,
melodioso, voz grave, mas romântico.
Num
outro canto daquela sala, um vitrolão imenso. Só tocava 78
rotações. Eu subia numa cadeira, e colocava o disco escolhido.
Haviam muitos, mas eu pinçava uns de rótulo vermelho, da RCA, com
aquele cachorro escutando um gramofone. O rótulo anunciava o título,
e o executante. Não lembro mais do título, mas quanto ao executante nunca esqueci. Dizia assim: ''Um Pau D'água ao Piano''.
Eram
discos de ragtime, como
esse aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário